sábado, maio 30, 2009

Sexo em Tantra?

GOLOKA

TransmuTando
Transformando

SEXO
em
TANTRA
Um Livro de Segredos para a Transformação do Sexo Comum na Consciência do Tantra



INTRODUÇÃO

Em minha primeira experiência sexual, eu me lembro que fiquei bem desapontado, eu me perguntei se era só aquilo mesmo que era sexo. Com certeza deveria haver algo mais naquilo. Eu tinha 14, e ela 18 anos, era enfermeira de uma clínica infantil durante a noite. A cidade que eu morava na época não era muito populosa e a clínica tinha quase nenhum movimento. Nos beijamos em um dia ao céu aberto, senti aquela sensação mágica no corpo todo. Encontrava-nos na clínica à noite ficávamos nos beijando e nos tocando no sofá da sala de espera. Eu voltava pra casa e me masturbava. Um dia, depois de várias sessões no sofá, ela me perguntou: ‘Você quer ficar comigo?’ Na hora não entendi o que ela queria dizer. Ela me pegou pelas mãos e fomos para um quarto, ela se despiu e eu me despi, ela se deitou na cama e eu ali bloqueei. O que houve? Estava tão animado, de repente meu pênis ficou mole. Pela primeira vez, literalmente, percebi a conexão entre a minha mente e meu pênis. Ela me tocou e a excitação fez o pênis enrijecer de novo e pude penetrá-la, e no movimento ejaculei depois de alguns parcos segundos... A sensação foi diferente, mas nada que eu pudesse diferenciar muito de uma masturbação.

Em seguida fui correndo para a casa de um amigo, era noite, eu o acordei precisava contar que pela primeira vez eu tinha ‘transado’. Excitado ele me pediu detalhes, mas como descrever a experiência para quem ainda não tinha tido? Cheio de mim como um pavão e ao mesmo tempo embaraçado, arrisquei, de forma que ele entendesse e não ficasse se sentindo inferiorizado, eu arrisquei a minha própria verdade: ‘E como punheta, só que com uma mulher!’.

Muitos anos mais tarde, já maduro e experiente, após explorações diversas com minha sexualidade, as quais eu consegui levar de uma certa forma saudável, me vi excursionando na arte do Tantra. Tornei-me inclusive um dos seus mais ávidos divulgadores. Em minhas andanças pelo mundo afora, eu me lembrava desta minha primeira experiência que somada a tantas outras, frustrantes, perversas, confusas, tensas, de certa forma relaxantes mas drenadoras de energia, que eu chamava de sexo.

À medida que eu ia tendo experiências mais positivas e nutritivas, e toda vez que o sexo se torna pleno, as chances do amor e de uma vida alegre são resultantes. Da mesma forma que o sexo incompleto - cheio de ressentimentos, frustrações e descontentamentos - resultado das práticas comuns inconscientes – neuróticas ou pervertidas - se torna uma fonte de discórdia - ciúmes, paixões violentas e desconfianças de todo jeito - levando a brigas, violência e separações raivosas, o sexo consciente cria possibilidades de intimidade amiga, honestidade e uniões amorosas duradouras.

Nossa falta de compreensão coletiva é tão grande que parece ser normal que jovens fiquem lutando na ignorância, tentando lidar com a energia sexual, essa força natural da vida de uma forma inconsciente, cheios de crenças absurdas e tabus. Nós pagamos caro por experiências sexuais frustrantes por causa da falta de educação e entendimento dos fundamentos da vida, tendo no sexo a raiz de nossa existência. O sexo, o amor, a intimidade tem se tornado um pesadelo ditado pela insegurança e falta de confiança. O Tantra é uma medicina, um antídoto, uma reeducação no sexo que nossos ancestrais nunca tiveram.

Quando comecei a perceber que eu vinha praticando o ato sexual repetidamente, mas ainda sem ter uma compreensão verdadeira de como a energia sexual funcionava, eu decidi começar a explorar, investigando os mistérios do sexo. O que me mantinha motivado eram os momentos esparsos de êxtase e de amor que foram bem diferentes de outros. Quando estes momentos aconteciam o tempo parava, e tudo se tornava parte de uma luz diferente, de uma dimensão e de uma percepção sensorial nova e divina, como se de repente eu estivesse verdadeiramente vivaz e com uma inteligência repentina de uma sensibilidade dominante. Aí eu percebi que alguma coisa maior existia em relação ao sexo e sua experiência, que naquela época ainda tinha que descobrir.

E percebo hoje, que não estou só, em meu extenso trabalho pelos anos tenho encontrado uma grande maioria de pessoas através de conversas em minhas sessões e workshops que têm experiências parecidas, masturbatórias, senão neuróticas ou pervertidas, promíscuas, traumáticas, violentas, sofridas e vazias. Do mesmo jeito que eu era, eles se sentem presos a um ciclo que se repete a cada vez que ‘fazem amor’, no ato sexual, e raramente há qualquer criatividade ou novidade. O desinteresse, a chatice, o lugar comum se estabelecem. Uns tentam roupas sexy, estranhas práticas sadomasoquistas de submissão-dominação, ‘swingers’, homo ou bi, celibatários obsessivos e outras mais ou menos pervertidas para avivar um sexo que se tornou mental - doentio e que não satisfaz e nem pode.

Eu me pergunto então o que está errado com o sexo? Se ele é um fenômeno natural, deve ser rico e pleno, não só um mecanismo biológico reprodutivo mas algo profundo que venha trazer um prazer cada vez mais completo. Quem na verdade pode afirmar que se realiza totalmente no sexo? Ainda não encontrei praticamente ninguém que pudesse realmente expressar sua experiência como a de um Dionísio, de um Shiva ou de um Krishna.

De qualquer forma a realidade é que o sexo é a energia da vida, a força biológica da reprodução humana. Através do sexo nós disseminamos nossa espécie. O desejo sexual é base de nossa força procriativa, ela é também a base da força criativa ativa, construtiva do ser humano, capaz de alterar o curso dos rios, unindo oceanos, esculpindo montanhas. Esta força é a raiz do fenômeno da consciência, através do sexo se pode alcançar o samadhi.

O desejar totalmente produz uma transformação na mente etérea e a totalidade é a única diferença entre desejo e vontade, desejar totalmente, de coração, torna-se vontade, que traz confiança e realização.

O Tantra chegou a mim através de Osho - místico indiano, um homem contemporâneo, mestre iluminado, que está ensinando aqui e agora, mesmo tendo deixado seu corpo em 1990. Osho é meu mestre espiritual e por causa de sua inteligência, sabedoria iluminada e presença, ele ressuscitou o Tantra milenar e o trouxe para nossa época em uma linguagem simples e popular, mais ainda, ele percebeu o casamento dos chakras dois a dois e o ensina, combinando técnicas ativas de meditação desenvolvidas por ele, a grupos de crescimento. Por causa disso, desde a década de 70 do século passado vinha sendo chamado de ‘Guru do Sexo’, por ter indicado as possibilidades de cura das repressões e perversões de nossa sexualidade e violência, tabus permanentes, através de sua aceitação e expressão responsável com a visão do Tantra, que vai muito além disso. O Tantra é um belo caminho de iluminação do espírito humano, um caminho para a superconsciência.

O Deus abstrato que as religiões propagam é a doença mental humana mais avassaladora em termos espirituais, o medo do homem, um consolo, alguém está cuidando de você nas nuvens, origem de cruzadas religiosas e das guerras sagradas. Muita gente tem sido morta em nome desse Deus e esse Deus monoteísta é ciumento. Gera guerras de sua idéia de Deus contra o a idéia do Deus deles, você pode ser destrutivo e violento, ele é considerado compassivo, o perdoa, o protege e o leva ao céu dele - ao paraíso dele, se você se arrepende e pede perdão. Estas crenças são a patologia humana.

As religiões organizadas desse Deus abstrato, ciumento e violento ensinam a chamada ‘lei de Deus’, criada pelos seus líderes pelos séculos afora, por seus próprios interesses escusos de controle das massas de fiéis, estas instituições organizadas em nome desse Deus e da ignorância tem destruído muito e tornado o coletivo de seus seguidores cegos, reprimidos, tateando no escuro por causa de seus medos de encarar suas realidades verdadeiras, suas energias de vida naturais, seu sexo, seus espíritos livres e expansivos.

O Tantra confia no seu corpo, cura suas patologias, Tantra não tem nenhum Deus e nem pode ter intermediários entre você e sua experiência sagrada de viver seu próprio corpo, de viver sua energia sexual bela, cheia de vida, esta energia é espiritual. Libertar-se desse Deus como figura paterna, como alguém nas nuvens, é estar só e responsável por você mesmo e estar consciente a não possuir ou querer controlar as pessoas, cuidar de sua própria energia de vida livre e expansiva para fazer o que você quiser com responsabilidade, sem interferir na liberdade dos outros, compartilhando, ajudando as pessoas em seus caminhos, com amor e compaixão que são as luzes do espírito humano, que é divino, mas sem nenhum Deus para consolar, sem nenhuma idéia abstrata de um Deus que nunca existiu e nem pode existir, porque tudo é divino em sua própria essência.

Osho abriu a ‘Caixa de Pandora’* do ser humano e declara que esta é a era do Tantra. Há a possibilidade agora de que a visão tântrica possa se manifestar completamente. Esta é a era mais propícia para sua disseminação e compreensão, uma era de evolução espiritual não vista ainda, porque representa a possibilidade de uma ruptura com o passado feio da humanidade e o nascimento de um novo ser humano, cada vez mais livre e expansivo que recebe e cultua o sagrado da vida positiva, sua energia natural, onde o Tantra entra com seus métodos e visão para dar a luz a um outro paradigma.

  • * O Mito de Pandora
    A caixa de Pandora é uma expressão muito utilizada quando se quer fazer referência a algo que gera curiosidade, mas que é melhor não ser revelado ou estudado, sob pena de se vir a mostrar algo temível, que possa fugir de controle. Esta expressão vem do mito grego, que conta sobre a caixa que foi enviada com Pandora a Epimeteu.
    Pandora foi enviada a
    Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Prometeu, antes de ser condenado a ficar 30.000 anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado comido pelo abutre Éton todos os dias, alertou o irmão quanto ao perigo de se aceitar presentes de Zeus.
    Epimeteu, no entanto, ignorou a advertência do irmão e aceitou o presente do rei dos deuses, tomando Pandora como esposa. Pandora trouxe uma caixa (uma jarra ou
    ânfora, de acordo com diferentes traduções), enviada por Zeus em sua bagagem. Epimeteu acabou abrindo a caixa, e liberando os males que haveriam de afligir a humanidade dali em diante: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. No fundo da caixa, restou a Esperança (ou segundo algumas interpretações, a Crença irracional ou Credulidade). Com os males liberados da caixa, teve fim a idade dourada (ignorante) da humanidade.
    Pode-se perguntar quanto ao sentido desta lenda: por que uma caixa, ou jarra, contendo todos os males da humanidade conteria também a Esperança? Na
    Ilíada, Homero conta que, na mansão de Zeus, haveria duas jarras, uma que guardaria os bens, outra os males. A Teogonia de Hesíodo não as menciona, contentando-se em dizer que sem a mulher, a vida do homem não é viável, e com ela, mais segura. Hesíodo descreve Pandora como um "mal belo" (καλὸν κακὸν/kalòn kakòn).
    O nome "Pandora" possui vários significados: panta dôra, a que possui todos os dons, ou pantôn dôra, a que é o dom de todos (dos deuses).
    A razão da presença da Esperança com os males deve ser procurada através de uma tradução mais acurada do texto grego. A palavra em grego é ἐλπίς/elpís, que é definida como a espera de alguma coisa; pode ser traduzida como esperança, mas essa tradução seguramente é arbitrária. Uma tradução melhor poderia ser "antecipação", ou até o temor irracional. Graças ao fechamento por Pandora da jarra no momento certo, os homens sofreriam somente dos males, mas não o conhecimento antecipado deles, o que provavelmente seria pior, preocupações, ansiedades.
    Eles não viveriam o temor perpétuo dos males por vir, tornando suas vidas possíveis. Prometeu se felicita assim de ter livrado os homens da obsessão com a própria morte. Uma outra interpretação ainda sugere que este último ‘mal’ é o de conhecer a hora de sua própria morte e a depressão que se seguiria por faltar a esperança, pela antecipação medrosa, obcecada.
    Um outro símbolo está inserido neste mito. A jarra (pithos) nada mais é que uma simples ânfora: um vaso muito grande, que serve para guardar grãos. Este vaso só fica cheio através do esforço, do trabalho no campo, seu conteúdo então simboliza a condição humana. Por conseqüência, será a mulher que a abrirá e a servirá, para alimentar a família, nutrição até mais ampla em sentido figurado.
    Uma aproximação deste mito pode ser feita com a
    Queda de Adão e Eva, relatada no livro do Gênesis. Em ambos os mitos é a mulher, previamente avisada (por Deus, na Bíblia, ou, aqui, por Prometeu e por Zeus), que comete um erro irremediável (comendo o fruto proibido, na Bíblia, ou, aqui, abrindo a caixa, ou jarra, de Pandora), condenando assim a humanidade a uma vida repleta de males e sofrimentos. Todavia, a versão bíblica pode ser interpretada como mais indulgente com a mulher, que é levada ao erro pela serpente, mas que divide a culpa com o homem.
    A mentalidade politeísta vê Pandora como a que deu ao homem a possibilidade de se aperfeiçoar através das provas e da adversidade (o que os monoteístas chamam de males). Ela lhe dá assim a força de enfrentar estas provas com a Esperança. Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, portanto, sem adversidades o ser humano não poderia evoluir.
    (Nota do Autor - fonte Wikipedia adaptado para este contexto)

O Tantra nos lembra que o verdadeiro relaxamento começa com o sexo. É um infortúnio que em nossas sociedades nós nos esquecemos da arte do relaxamento em muitas áreas da vida. O sexo em particular se tornou uma fonte enorme de ansiedades e stress para a maioria de nós. Estamos condicionados com inúmeros medos e tensões em torno do sexo, chamamos a atração sexual em nosso idioma de ‘tesão’ que é uma palavra tão próxima à ‘tensão’ e que traz escondida esta idéia, da mesma forma que ‘paixão’ uma palavra originada do grego ‘pathos’ que gerou ‘patologia’. Inadvertidamente usamos corriqueiramente palavras para designar nosso Eros, atração e envolvimento sexual que indicam na verdade o quão tenso e patológico nossas relações se tornaram.

Mas no momento que o Tantra entra em nosso universo e nós começamos a experienciar o relaxamento consciente durante o ato sexual, percebemos quantas ansiedades e infelicidades naturalmente se dissolvem. Se pudermos relaxar na energia sexual, o conforto interno que isso produz vai radiar por toda nossa vida, trazendo a mesma qualidade de relaxamento e tornando o amor mais fácil. Nada deve ser escondido e tudo que está aberto e verdadeiro é sagrado. Disso surge uma autoconfiança baseada no entendimento que liberta e expande.

O orgasmo sexual pleno é uma das experiências ensinadas pela visão tântrica, a qual nos conduz através de técnicas de meditação simples: a respirar corretamente, a olhar de forma inocente e terna, a relaxar, a estar presente no ato, a se comunicar a partir do coração com verdade e confiança, a expressar sentimentos através das sensações do corpo, a nos extasiarmos com o parceiro e sua presença, trocando energias belas e luminosas. Tudo isso, resultado de uma atitude e de muitos segredos que se revelam a partir dela.

Que atitude é essa?

É uma ação da consciência, uma atitude meditativa, observação sem julgamento, testemunhando relaxadamente, receptivamente e femininamente.

E quais são os segredos?

Muitos são os segredos do Tantra, eles estão ‘escondidos’ atrás de nossos próprios narizes, são segredos abertos, só revelados para aqueles que estão dispostos a se arriscarem a serem eles mesmos. Ser você mesmo é a chave. Voltar à essência pura, transparente, inocente é o portal que pode abrir todos esses segredos abertos. Desbloquear o corpo, avivar os sentidos e a sensibilidade e ir além da mente neurótica, são os canais principais onde iremos navegar para que possa ser possível transmutarmos e transformarmos o Sexo em Tantra.

Este é um guia, um livro de atitudes e segredos para proporcionar a transformação do sexo comum na consciência divina do Tantra, que é transcendental, supraconsciente. O sexo é só o primeiro degrau para a iluminação do espírito, mas sem passar por ele não é possível ir além.

O sexo é nossa química natural. A atração entre sexos tem sido investigada cientificamente, no reino animal e no nosso meio humano como animais que somos. O sistema de comunicação química envolve não só os sinais mas uma grande mudança química no emissor e receptor. Os chamados feronômios que são substâncias
químicas que permitem o reconhecimento sexual. São substâncias que provocam excitação ou estímulo sexual. O sexo portanto move um sistema químico que provoca o estímulo para o prazer e uma alteração química saudável nas pessoas.

A atração enorme das pessoas por drogas alucinógenas de todos os tipos é, segundo minha percepção, resultado da grande repressão sexual e do afastamento do ser humano de sua essência natural. Á medida que nos permitirmos a fluir com nossa natureza, nossa química volta aos níveis normais de troca necessárias a uma vida saudável e plena. _
Goloka

Um comentário:

Padma Surya disse...

Querido G...

Quão bela e plena é a abordagem deste texto, e o quanto nos faz sentir relaxados, em êxtase e na conexão.

Não nos sentimos mais sós na caminhada ao perceber, através de tuas palavras, que muitas outras pessoas estão no mesmo processo que nós. Todos na frenética luta de se compreender, de se harmonizar com o corpo e transmutar a barreira do idealismo biológico.

Fico feliz amado Goloka por nos presentear com tão sábias palavras de luz, um conhecimento tão belo e que, principalmente em nossa língua mãe, são disponibilizados apenas pequenos fragmentos sem nitidez e essência desta arte que realmente, com consciência e entrega, pode modificar a nossa vida.

Com todo carinho lhe abraço e lhe parabenizo por tamanha maestria, amor e trabalho para com o Tantra.

Amor...
Padma Surya